N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

sábado, 18 de janeiro de 2014

Entro na cidade e escuto os passos soterrados dos que lidam. Faço-me sonho e luz sempre nova e ancestral. Os meus pés, deslizando, balançam o chão embebendo o asfalto em surdina, cal se transformando macio dentro da noite. O solo suaviza, descansa os pedestres que dormem areia, amizade e jornada. Um aroma de esperança se difunde, as mentes se fibram, almas exalam paz arrostando sombras. Sem favores. A consciência cai como chuva branda lentamente encharcando todos, que se olham como iguais: diferenças são de estilo e gosto, o valor é um só. Cores misturadas arejam os palanques, carne velha disponível aos abutres. Uma brisa saudável de sabedoria arrepia os poros de todos, untando a pele como loção de vida. Não há lastro para contenda quando chegamos ao pódio de um só degrau.