N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

domingo, 30 de junho de 2013

O coral faz ensaios abertos todos os dias e se apresenta nos tempos de decisão

Uma bandeira esvoaçando no eco de esperanças plantadas. Os gritos arrefecem sem rouquidão e a voz cresce em volume. Os engravatados não estão mais sós, legião de sentinelas canta sem descanso atrapalhando o baile de máscaras.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um diamante no céu campestre de fevereiro


a Mari e Pedro

A brancura de uma vela
de pavio firme e chama branda,
que, açoitada pelo vento,
flama intensa e não se apaga,
cera sempre renovada
por lágrimas fecundadas pela beleza
e risos brincando entre palavras
doces, ou fortes, sempre bem aventuradas,
vontade prenhe de acolher,
saltos corajosos, a olhos estranhos, perigosos,
seguros dentro do peito
e amparados por braços cuidadosos,
ainda que doídos, salvos
e confiantes nos poderes curativos
de cada pequeno gesto,
florindo o lar com cores e perfumes,
e mesmo no choque um mútuo recriar,
como o exemplo de anciãos nobres
limando o vínculo de insignificâncias atrevidas,
colocando no justo lugar cada ponto,
cada traço, cada figura
e, numa concentração cristalina,
modelando o amor como um diamante,
inquebrado e preservado
no espaço intangível de uma ligação
feliz.

domingo, 9 de junho de 2013

Olhos de prata

Perco-me em sua úmida íris.
Não posso atravessar sua física constituição,
parece-me infinita em seus desenhos mínimos,
imprecisos à minha pobre apreensão.
Nunca saberei de antemão sua gentil pontaria.
Seguirei e me escapará, como partículas incertas,
brindando-me numa volta imprevista
com sua generosidade esquiva.
Deito-me para o céu entre o noturno,
as estrelas se movem, à minha revelia me derramam sua dança.
Estendo em meu entorno uma luz transparente.
Planto armadilha prateada e te sussurro,
aponto a captura, ofereço tangentes,
você cala;
insidiosamente escorrega o seu abismo
nos meus olhos.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Estrondo

Arrebato taquicardias em desvãos quase mortas por desuso, lâmpadas ruídas e janelas em estertor atravancadas, gretas como lâminas podando fios de aranha. As pupilas se expandem, o pó flutua e caído mancha a sola das minhas ambições em grave oitava. Desnudo-me em criação, reúno trastes numa transmutação sem piedade, sopro outono nas paredes como a limar projeções timoratas, conjuro martelos, abdico de levezas, intento a fulminação dos telhados abrindo meus órgãos à brasa manca no meio-do-céu. Incho meus pulmões com a flecha imunda das vísceras, garganta exalando num veludo agressivo o vermelho extático a se infiltrar nos declives que abalo armado de memória polida. Unto minha volúpia que afoita como átomos se multiplica e explode em clarão insolente todos os entornos, meu sangue treme na queda, quebro arestas com roçares, embebo em terra úmida meus pés em chamas com a chave dos ventos.

domingo, 2 de junho de 2013