N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

terça-feira, 16 de abril de 2013

Voo de parvos

A aeromoça no banheiro esfregava as mãos mas não faiscava. Atadas nas cordas em fiapos só lhes restava erguer as unhas ao mais alto e esperar os dedos de um deus. Os sentinelas usando explosivos de artesão se esgueiravam como minhocas de intrometidos com caças mudos suicidando espancados a bufar. A aeromoça se lembrava de prados perfumados em que certa vez estaria e agarrando o momento se convertia em alma imortal. Fechando os ouvidos em melodia pedia perdão por todos ecoando uma cruz nublada enquanto o azul lá fora permanecia. As cores serão sempre cores à revelia dos néscios pensou ela com a aeronave a flanar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nenhuma aeromoça que se lembrasse de prados perfumados, poderia esfregar as mãos, perante a maldade dos néscios. Talvez faísca-se de tristeza perante a maldade dos fazedores de gritos intrometidos. Talvez trincasse os lábios, talvez os mordesse em silêncio. Temendo perecer perante caças ruidosos que ousam desmedidamente colocar em trincheiras , ora uns que voam de forma parva, ora até piloto e aeromoça que de parvos nada têm, mas de espancados muito têm que se curar.
Em melodia silenciosa, ecoada por uma cruz nada nublada, mas menos translucida que o desejável, pedir perdão por todos, seria um acto de mera falta de lucidez. Quando muito, perdão a pedir ao azul onde a aeronave flana, mas nem sempre a aeromoça sabe reconhecer o rasto deixado no céu.
Agarrados a um momento, mesmo que não nos convertamos em almas imortais, sabemos reconher-nos como seres capazes de nos agarrar a muitos momentos mais.
Atados num nó e num voo de esperança.