N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

domingo, 13 de junho de 2010

Nove anos, Itália

Eu estava na casa do Joãozinho. Não me lembro qual jogo passava, mas se tivesse que arriscar diria que foi algum da seleção dos Camarões. Roger Milla foi o grande heroi dos underdogs de 1990. Liderou seu time à vitória na estreia, contra a então campeã reinante, a poderosa Argentina. Torci bastante para o camaronês quase idoso, que dava ares africanos à copa - algo, para os meus olhos infantis, inédito. Aliás, o Joãozinho era descendente de africanos. Havia se mudado do meu prédio para uma casa enorme, um ou dois anos antes. Seus pais eram ricos e, provavelmente, não podiam ter filhos. Eu sempre me perguntava se Joãozinho, que devia ser um ou dois anos mais novo que eu, tinha conhecimento do óbvio: era adotado. A mim não parecia, e eu tomava muito cuidado para não tocar no assunto. Gostava muito da companhia dele, ia sempre nadar e jogar bola em sua casa. Porém, perdemos o contato antes que pudéssemos conversar sobre desigualdades, preconceitos e injustiças.

O Brasil ganhou todos os jogos na primeira fase daquela copa, todas vitórias magras. Suécia, Escócia e Costa Rica, se me lembro bem. Aí, nas oitavas, a defensora do título. Tinha ido mal nos três primeiros jogos, foi pegar logo o Brasil. Eu estava na casa do Rodrigo (era casa ainda). Nunca me esquecerei daquela cena. Lá vem Caniggia, lá vai Taffarel em cima dele, lá vem drible, lá vem bola, lá vem gol. 1 x 0 Argentina. Hasta la vista.

Eu não estava dando sorte para a seleção. Eliminada nas quartas na minha primeira copa, nas oitavas na minha segunda. Isso sem contar a verdadeira primeira copa da minha vida, a de 1982, em que eu tenha talvez participado com choros e acenos, entre uma engatinhada e outra. A romântica copa espanhola, a seleção dourada que não ganhou. Só restava, mais uma vez, esperar.

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