N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

"Entre o ser e as coisas"
Carlos Drummond

domingo, 30 de novembro de 2008

O péssimo e o maravilhoso

O maravilhoso
Nada era maravilhoso na vida de A.C. Ele tinha abandonado qualquer esperança e mesmo desejo de que algo desse gênero aparecesse em sua vida. Certa vez, foi promovido no trabalho. Na mesma semana, uma ex que lhe tinha dado um fora quis reatar o namoro. Além disso, passou na seleção do doutorado e foi agraciado com uma viagem aos Tigres Asiáticos, sorteado numa promoção de shopping center. Inabalável em sua resolução, não comemorou, não deu um sorriso a mais do que o habitual e não tratou melhor os colegas – nem mesmo amigos e familiares. Todos lhe vinham dar os parabéns, felizes, mas nada além de um seco “obrigado” conseguiam tirar dele. Entrou no doutorado. Voltou com a ex. Empossou-se no novo cargo. Viajou. Uma semana depois de regressar, mirando-se no espelho, identificou suas primeiras rugas. Nada era maravilhoso na vida de A.C.

O péssimo
Nada era péssimo na vida de C.A. Certa vez, foi descoberto por um agente de modelos. Antes da primeira sessão de fotos, seu barraco pegou fogo. Queimado no rosto, adquiriu uma marca permanente da tragédia, dando adeus, ao mesmo tempo, à nova carreira e à noiva, com quem se casaria em menos de um mês. Sem-teto, sem dinheiro e sem perspectivas, resolveu-se a vender balas chita nos sinais de trânsito. Sempre sorrindo, arrancava moedas de motoristas por sua jovialidade e bom humor. Até que foi atropelado por um adolescente bêbado. Novamente no hospital, perdeu todo o movimento das pernas. Ao ter alta, ganhou de presente de uma médica uma cadeira de rodas novinha em folha. Nada era péssimo na vida de C.A.

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